Portugal
A fronteira entre os dialetos portugueses setentrionais e centro-meridionais
atravessa Portugal de noroeste a sudeste. Merecem atenção especial
algumas regiões do país que apresentam características
fonéticas peculiares: a região setentrional que abrange parte
do Minho e do Douro Litoral, uma extensa área da Beira-Baixa e do Alto-Alentejo,
principalmente centro-meridional, e o ocidente do Algarve, também centro-meridional.
Os dialetos falados nos arquipélagos dos Açores e da Madeira
representam um prolongamento dos dialetos portugueses continentais, podendo
ser incluídos no grupo centro-meridional. Constituem casos excepcionais
a ilha de São Miguel e da Madeira: independentemente uma da outra,
ambas se afastam do que se pode chamar a norma centro-meridional por acrescentar-lhe
um certo número de traços muito peculiares (alguns dos quais
igualmente encontrados em dialetos continentais).
O galego
A maioria dos linguistas e intelectuais defende a unidade linguística
do galego-português até a atualidade. Segundo esse ponto de vista,
o galego e o português modernos seriam parte de um mesmo sistema linguístico,
com diferentes normas escritas (situação similar à existente
entre o Brasil e Portugal, ou entre os Estados Unidos e a Inglaterra, onde
algumas palavras têm ortografias distintas). A posição
oficial na Galiza, entretanto, é considerar o português e o galego
como línguas autônomas, embora compartilhando algumas características.
História da língua no Brasil
No início da colonização portuguesa no Brasil (a partir
da descoberta, em 1500), o tupi (mais precisamente, o tupinambá, uma
língua do litoral brasileiro da família tupi-guarani) foi usado
como língua geral na colônia, ao lado do português, principalmente
graças aos padres jesuítas que haviam estudado e difundido a
língua. Em 1757, a utilização do tupi foi proibida por
uma Provisão Real. Tal medida foi possível porque, a essa altura,
o tupi já estava sendo suplantado pelo português, em virtude
da chegada de muitos imigrantes da metrópole. Com a expulsão
dos jesuítas em 1759, o português fixou-se definitivamente como
o idioma do Brasil. Das línguas indígenas, o português
herdou palavras ligadas à flora e à fauna (abacaxi, mandioca,
caju, tatu, piranha), bem como nomes próprios e geográficos.
Com o fluxo de escravos trazidos da África, a língua falada
na colônia recebeu novas contribuições. A influência
africana no português do Brasil, que em alguns casos chegou também
à Europa, veio principalmente do iorubá, falado pelos negros
vindos da Nigéria (vocabulário ligado à religião
e à cozinha afrobrasileiras), e do quimbundo angolano (palavras como
caçula, moleque e samba).
Um novo afastamento entre o português brasileiro e o europeu aconteceu
quando a língua falada no Brasil colonial não acompanhou as
mudanças ocorridas no falar português (principalmente por influência
francesa) durante o século XVIII, mantendo-se fiel, basicamente, à
maneira de pronunciar da época da descoberta. Uma reaproximação
ocorreu entre 1808 e 1821, quando a família real portuguesa, em razão
da invasão do país pelas tropas de Napoleão Bonaparte,
transferiu-se para o Brasil com toda sua corte, ocasionando um reaportuguesamento
intenso da língua falada nas grandes cidades.
Após a independência (1822), o português falado no Brasil
sofreu influências de imigrantes europeus que se instalaram no centro
e sul do país. Isso explica certas modalidades de pronúncia
e algumas mudanças superficiais de léxico que existem entre
as regiões do Brasil, que variam de acordo com o fluxo migratório
que cada uma recebeu.
No século XX, a distância entre as variantes portuguesa e brasileira
do português aumentou em razão dos avanços tecnológicos
do período: não existindo um procedimento unificado para a incorporação
de novos termos à língua, certas palavras passaram a ter formas
diferentes nos dois países (comboio e trem, autocarro e ônibus,
pedágio e portagem). Além disso, o individualismo e nacionalismo
que caracterizam o movimento romântico do início do século
intensificaram o projeto de criação de uma literatura nacional
expressa na variedade brasileira da língua portuguesa, argumento retomado
pelos modernistas que defendiam, em 1922, a necessidade de romper com os modelos
tradicionais portugueses e privilegiar as peculiaridades do falar brasileiro.
A abertura conquistada pelos modernistas consagrou literariamente a norma
brasileira.
Zonas dialectais brasileiras
A fala popular brasileira apresenta uma relativa unidade, maior ainda do
que a da portuguesa, o que surpreende em se tratando de um pais tão
vasto. A comparação das variedades dialetais brasileiras com
as portuguesas leva à conclusão de que aquelas representam em
conjunto um sincretismo destas, já que quase todos os traços
regionais ou do português padrão europeu que não aparecem
na língua culta brasileira são encontrados em algum dialeto
do Brasil.
A insuficiência de informações rigorosamente científicas
e completas sobre as diferenças que separam as variedades regionais
existentes no Brasil não permite classificá-las em bases semelhantes
às que foram adotadas na classificacão dos dialetos do português
europeu. Existe, em caráter provisório, uma proposta de classificação
de conjunto que se baseia - como no caso do português europeu - em diferenças
de pronúncia (basicamente no grau de abertura na pronúncia das
vogais, como em pEgar, onde o "e" pode ser aberto ou fechado, e
na cadência da fala). Segundo essa proposta, é possível
distinguir dois grupos de dialetos brasileiros: o do Norte e o do Sul. Pode-se
distinguir no Norte duas variedades: amazônica e nordestina. E, no Sul,
quatro: baiana, fluminense, mineira e sulina.
Esta proposta, embora tenha o mérito de ser a primeira tentativa de
classificação global dos dialetos portugueses no Brasil, é
claramente simplificadora. Alguns dos casos mais evidentes de variações
dialectais não representadas nessa classificação seriam:
A diferença de pronúncia entre o litoral e o interior do
Nordeste; o dialeto da região de Recife, em Pernambuco (PE) é
particularmente distinto;
A forma de falar da cidade do Rio de Janeiro (RJ);
O dialeto do interior do estado de São Paulo (SP); e
As características próprias aos três estados da região
sul (PR, SC e RS), em particular o(s) dialeto(s) utilizado(s) no estado
do Rio Grande do Sul (RS)
O português na África
Em Angola e Moçambique, onde o português se implantou mais fortemente
como língua falada, ao lado de numerosas línguas indígenas,
fala-se um português bastante puro, embora com alguns traços
próprios, em geral arcaísmos ou dialetalismos lusitanos semelhantes
aos encontrados no Brasil. A influência das línguas negras sobre
o português de Angola e Moçambique foi muito leve, podendo dizer-se
que abrange somente o léxico local.
Nos demais países africanos de língua oficial portuguesa, o
português é utilizado na administração, no ensino,
na imprensa e nas relações internacionais. Nas situações
da vida cotidiana são utilizadas também línguas nacionais
ou crioulos de origem portuguesa. Em alguns países verificou-se o surgimento
de mais de um crioulo, sendo eles entretanto compreensíveis entre si.
Essa convivência com línguas locais vem causando um distanciamento
entre o português regional desses países e a língua portuguesa
falada na Europa, aproximando-se em muitos casos do português falado
no Brasil.
Angola
O português é a língua oficial de Angola. Em 1983, 60%
dos moradores declararam que o português é sua língua
materna, embora estimativas indiquem que 70% da população fale
uma das línguas nativas como primeira ou segunda língua.
Além do português, Angola abriga cerca de onze grupos lingüísticos
principais, que podem ser subdivididos em diversos dialetos (cerca de noventa).
As línguas principais são: o umbundu, falado pelo grupo ovimbundu
(parte central do país); o kikongo, falado pelos bakongo, ao norte,
e o chokwe-lunda e o kioko-lunda, ambos ao nordeste. Há ainda o kimbundu,
falado pelos mbundos, mbakas, ndongos e mbondos, grupos aparentados que ocupam
parte do litoral, incluindo a capital Luanda.
Talvez em razão dessa variedade lingüística original,
o português acabou por se tornar uma espécie de língua
franca, que facilitava a comunicação entre os diversos grupos.
Em contato com as línguas nativas, o português também
sofreu modificações, dando origem a falares crioulos, conhecidos
como pequeno português, ou popularmente, como pretoguês.
Cabo Verde
O português é a língua oficial de Cabo Verde, utilizada
em toda a documentação oficial e administrativa. É também
a língua das rádios e televisões e, principalmente, a
língua de escolarização.
Paralelamente, nas restantes situações de comunicação
(incluindo a fala quotidiana), utiliza-se o cabo-verdiano, um crioulo que
mescla o português arcaico a línguas africanas. O crioulo divide-se
em dois dialetos com algumas variantes em pronúncias e vocabulários:
os das ilhas de Barlavento, ao norte, e os das ilhas de Sotavento, ao sul.
Guiné-Bissau
Em 1983, 44% da população falava crioulos de base portuguesa,
11% falava o português e o restante, inúmeras línguas
africanas. O crioulo da Guiné-Bissau possui dois dialetos, o de Bissau
e o de Cacheu, no norte do país.
A presença do português em Guiné-Bissau não está
consolidada, pois apenas uma pequena percentagem da população
guineense tem o português como a língua materna e menos de 15%
tem um domínio aceitável da Língua Portuguesa. A zona
lusófona corresponde ao espaço geográfico conhecido como
"a praça", que corresponde à zona central e comercial
da capital (Bissau).
A situação se agrava devido ao fato da Guiné-Bissau
ser um país encravado entre países francófonos e com
uma comunidade imigrante expressiva vinda do Senegal e da Guiné (também
conhecida como Guiné-Conakri). Por causa da abertura à integração
sub-regional e da grande participação dos imigrantes francófonos
no comércio, existe presentemente uma grande tendência de as
pessoas utilizarem e aprenderem mais o francês do que o português.
Há aqueles que defendem que, atualmente, o francês já
é a segunda língua mais falada na Guiné, depois do crioulo.
Moçambique
Moçambique está entre os países onde o português
tem o estatuto de língua oficial, sendo falada, essencialmente como
segunda língua, por uma parte da sua população.
De acordo com dados do Censo de 1980, o português era falado por cerca
de 25% da população e constituía a língua materna
de pouco mais de 1% dos moçambicanos. Os dados do Censo de 1997 indicam
que a percentagem atual de falantes de Português já é
de 39,6%, que 8,8% usam o português para falar em casa e que 6,5% consideram
o português como sua língua materna.
A vasta maioria das pessoas
que têm a língua portuguesa como materna reside nas áreas
urbanas do país, e são os cidadãos urbanos, principalmente,
que adotam o português como língua de uso em casa. No país
como um todo, a maioria da população fala línguas do
grupo bantu. A língua materna mais frequente é o emakhuwa (26.3%);
em segundo lugar está o xichangana (11.4%) e em terceiro, o elomwe
(7.9%).
São Tomé e Príncipe
Em São Tomé fala-se o forro, o angolar, o tonga e o monco (línguas
locais), além do português. O forro (ou são-tomense) é
um crioulo de origem portuguesa, que se originou da antiga língua falada
pela população mestiça e livre das cidades. No século
XVI, naufragou perto da ilha um barco de escravos angolanos, muitos dos quais
conseguiram nadar até a ilha e formar um grupo étnico a parte.
Este grupo fala o angolar, um outro crioulo de base portuguesa mas com mais
termos de origem bantu. Há cerca de 78% de semelhanças entre
o forro e o angolar. O tonga é um crioulo com base no português
e em outras línguas africanas. É falado pela comunidade descendente
dos "serviçais", trabalhadores trazidos sob contrato de outros
países africanos, principalmente Angola, Moçambique e Cabo-Verde.
A ilha do Príncipe fala principalmente o monco (ou principense), um
outro crioulo de base portuguesa e com possíveis acréscimos
de outras línguas indo-européias. Outra língua muito
falada em Príncipe (e também em São Tomé) é
o crioulo cabo-verdiano, trazido pelos milhares de cabo-verdianos que emigraram
para o país no século XX para trabalharem na agricultura.
O português corrente de São Tomé e Príncipe guarda
muitos traços do português arcaico na pronúncia, no léxico
e até na construção sintática. Era a língua
falada pela população culta, pela classe média e pelos
donos de propriedades. Atualmente, é o português falado pela
população em geral, enquanto que a classe política e
a alta sociedade utilizam o português europeu padrão, muitas
vezes aprendido durante os estudos feitos em Portugal.
Outras regiões da África
A influência portuguesa na África deu-se também em algumas
outras regiões isoladas, muitas vezes levando à aparição
de crioulos de base portuguesa:
Ano Bom, na Guiné Equatorial.
Em Ano Bom, uma ilha a 400 km ao sul de São Tomé, fala-se
o ano-bonense, bastante similar ao são-tomense. Tal fato explica-se
por haver sido a ilha povoada por escravos vindos de São Tomé.
Casamança, no Senegal.
O crioulo de Casamança só se fala na capital, Ziguinchor,
uma cidade fundada por portugueses (seu nome deriva da expressão portuguesa
cheguei e chorei). Está na órbita lexical do crioulo de Cacheu,
na Guiné-Bissau.
O português na Ásia
Embora nos séculos XVI e XVII o português tenha sido largamente
utilizado nos portos da Índia e sudeste da Ásia, atualmente
ele só sobrevive na sua forma padrão em alguns pontos isolados:
No Timor leste, território sob administração portuguesa
até 1975, quando foi invadido e anexado ilegalmente pela Indonésia.
A língua local é o tetum, mas uma parcela da população
domina o português.
Em Macau, território chinês que esteve sob administração
portuguesa até 1999. O português é uma das línguas
oficiais, ao lado do chinês, mas só é utilizado pela
administração e falado por uma parte minoritária da
população;
No estado indiano de Goa, possessão portuguesa até 1961,
onde vem sendo substituído pelo konkani (língua oficial) e
pelo inglês.
Dos crioulos da Ásia e Oceania, outrora bastante numerosos, subsistem
apenas os de Damão, Jaipur e Diu, na Índia; de Málaca,
na Malásia; do Timor; de Macau; do Sri-Lanka; e de Java, na Indonésia
(em algumas dessas cidades ou regiões há também grupos
que utilizam o português).
Bibliografia
1. Walter, Henriette (1994), A Aventura das Línguas
do Ocidente - A sua Origem, a sua História, a sua Geografia (tradução
de Manuel Ramos). Terramar, Lisboa, Portugal.
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da Literatura Portuguesa - Volume I: A Poesia dos Trovadores Galego-Portugueses.
Edições Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, Brasil.
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- Morfologia e Sintaxe. Editora Contexto, São Paulo, Brasil.
4. Ferreira, Carlota e outros (1994), Diversidade do Português
do Brasil: Estudos de Dialectologia Rural e Outros, 2a edição
(revista). Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil.
5. Cunha, Celso e Cintra, Luis F. Lindley (1985), Nova Gramática
do Português Contemporâneo, cap. 2, pp. 9-14. Editora Nova Fronteira,
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6. Cuesta, Pilar V. e Mendes da Luz, Maria A. (1971), Gramática
da Língua Portuguesa, pp. 119-154. Coleção Lexis, Edições
70, Lisboa, Portugal.
7. Novo Dicionário Aurélio da Língua
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8. Almanaque Abril, 20a (1994) e 21a (1995) edições.
Editora Abril, São Paulo, Brasil.
9. Culbert, Sidney S. (1987), The principal languages of
the World, em The World Almanac and Book of
Curiosidades sobre a Língua Portuguesa
.Se é que Cabral gritou alguma coisa quando avistou os contornos do
Monte Pascoal, certamente não foi "terra ã vishta",
assim com o "a" abafado e o "s" chiado que associamos
ao sotaque português. No século XVI, nossos primos lusos não
engoliam vogais nem chiavam nas consoantes - essas modas surgiram depois do
século XVII, na Península Ibérica. Cabral teria berrado
um "a" bem pronunciado e dito "vista" com o "s"
sibilante igual ao dos paulistas de hoje. O hábito de engolir vogais,
da maneira como o fazem os portugueses de hoje, consolidou-se na língua
aos poucos, naturalmente. Na verdade, nós, brasileiros, mantivemos
os sons que viraram arcaísmos empoeirados para os portugueses.
............Só que, ao mesmo tempo, acrescentamos à língua
mãe nossas próprias inovações. Demos a ela um
ritmo roubado dos índios, introduzimos subversões à gramática
herdadas dos escravos negros e temperamos com os sotaques de milhões
de imigrantes europeus e asiáticos. Deu algo esquisito: um arcaísmo
moderno.
............O português brasileiro levou meio milênio se desenvolvendo
longe de Portugal até ficar nitidamente diferente. Mas ainda é
quase desconhecido. Até os anos 90, os lingüistas pouco sabiam
sobre a história da língua, sobre nosso jeito de falar e as
diferenças regionais dentro do Brasil. Agora, três projetos de
pesquisa estão mudando isso:
............1) Gramática do português falado: será publicada
em 2001, depois de ocupar 32 lingüistas de doze universidades durante
dez anos. " Ao contrário do que se acredita, as pessoas falam
com muito mais riqueza do que escrevem", diz à SUPER o professor
Ataliba de Castilho, do departamento de Letras da Universidade de São
Paulo, que coordena o projeto.
............2) A origem de cada estrutura gramatical: Ao estudar as particularidades
da língua falada, os pesquisadores reuniram informações
sobre a origem de cada estrutura gramatical. A partir desses dados, estão
começando a primeira pesquisa completa sobre a história do português
no Brasil. A intenção é identificar todas as influências
que a língua sofreu deste lado do Atlântico. Só que essas
influências são diferentes em cada parte do país. Daí
a importância do terceiro projeto:
............3) O Atlas Linguístico. "Até 2005, vamos
mapear todos os dialetos da nação", prevê Suzana
Cardoso, lingüista da Universidade Federal da Bahia e coordenadora da
pesquisa, que abrangerá 250 localidades entre o Rio Grande do Sul e
a Amazônia.
............Os três projetos somados constituem, sem dúvida,
o maior avanço para a compreensão da nossa língua desde
que Cabral aportou por aqui.
Caldeirão de povos
............Mas, se há semelhanças entre a língua do
Brasil de hoje e o português arcaico, há também muito
mais diferenças. Boa parte delas é devida ao tráfico
de escravos, que trouxe ao Brasil um número imenso de negros, que não
falavam português. " Já no século XVI, a maioria
da população da Bahia era africana", diz Rosa Virgínia
Matos e Silva, lingüista da Universidade Federal da Bahia. "Toda
essa gente aprendeu a língua de ouvido, sem escola", conta. Na
ausência de educação formal, a mistura de idiomas torna-se
comum e traços de um impregnam o outro. "Assim, os negros deixaram
marcas definitivas", ressalta ela.
............Também no século XVI, começaram a surgir
diferenças regionais no português do Brasil. Num pólo
estavam as áreas costeiras, onde os índios foram dizimados e
os escravos africanos abundavam. No outro, o interior, onde havia sociedades
indígenas. À mistura dessas influências vieram se somar
as imigrações, que foram gerando diferentes sotaques. "Com
certeza, o Brasil hoje comporta diversos dialetos, desde os regionais até
os sociais, já que os ricos não falam como os pobres""
afirma Gilvan Müller de Oliveira, da Universidade Federal de Santa Catarina.
............Mas o grande momento de constituição de uma língua
"brasileira" foi o século XVIII, quando se explorou ouro
em Minas Gerais. "Lá surgiu a primeira célula do português
brasileiro", diz Marlos de Barros Pessoa, da Universidade Federal de
Pernambuco. "A riqueza atraiu gente de toda parte - portugueses, bandeirantes
paulistas, escravos que saíam de moinhos de cana e nordestinos."
Ali, a língua começou a se uniformizar e a exportar traços
comuns para o Brasil inteiro pelas rotas comerciais que a exploração
do ouro criou.
Falas brasileiro ?
............ A lei da evolução, de Darwin, estabelece que
duas populações de uma espécie, se isoladas geograficamente,
separam-se em duas espécies. A regra vale para a Lingüística.
"Está em gestação uma nova língua: o brasileiro",
afirma Ataliba de Castilho.
............As diferenças entre o português e o brasileiro
são maiores do que as existentes entre o hindi, um idioma indiano,
e o hurdu, falado no Paquistão, duas línguas aceitas como distintas",
diz Kanavillil Rajagopalan, especialista em Política Lingüística
da Unicamp.
............Algo mais: o português é falado em vários
países da África, incluindo Angola e Moçambique, em Macau,
na China, em Goa, na Índia e no Timor Leste, recém-independente
da Indonésia. O número de falantes beira os 200 milhões,
160 dos quais aqui no Brasil. É o sexto idioma mais falado do mundo.
Fonte: www.ufv.br
ORIGEM E FORMAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Homem e a Índole Comunicativa e Social
A Linguagem Verbal
A linguagem é uma das características maiores do homem. Desde
a pré-história, a necessidade de comunicação se
fazia presente. Antes da língua oral, o homem desenvolveu outras linguagens
como gestos, sinais e símbolos pictóricos, amuletos, tudo isto
profundamente relacionado com o mítico (deus).
Essa necessidade de se comunicar encontra fundamento na própria essência
humana, já que se nota a propensão à partilha e à
organização social.
Acredita-se que as primeiras articulações de sons produzidos
pelo nosso aparelho fonador com significados distintos para cada ruído,
convencionados em código, foram celebradas na Língua Indo-européia,
numa região incerta da Europa oriental, a 3000 a.C. A partir de então,
o Indo-europeu foi levado a diversas regiões, desde o Oriente Próximo
até a Grã-Bretanha. Justamente pela grande propagação
dessa língua em territórios tão distantes, O Indo-europeu
evolui na forma de diversas novas línguas, como o grego, o eslavo e
o itálico.
LÍNGUAS PROVENIENTES DO INDO-EUROPEU
Hitita
Na Ásia Menor (Síria Antiga, 1900 a.C.);
Germânico
Noroeste da Europa (Germânia e Alemanha);
Celta
Continental (Gaulês) e Insular (Gaélico e Britânico);
Itálico
Osco, Sabélico, Úmbrio, Latim;
Albanês;
Grego
Junção dos Dialetos do Mar Egeu;
Báltico
Prussiano, Letão e Lituano;
Eslavo
Ocidental (Polonês e Tcheco) , Meridionais (Búlgaro, Servo,
Esloveno) e Orientais (Russo e Ucraniano);
Armênio
No Cáucaso e na Mesopotâmia (com escrita desde IX a.C.);
Indo-iraniano
Iraniano (Persa, Avéstico, Medo, Cita) e Indo (Sânscrito, Prácritos);
Tocário
Turquestão chinês (manuscritos desde 10 d.C.)
Do Indo-europeu, passando pelo Itálico, até o Latim
O latim é uma terceira fisionomia, determinada por fatores locais
(cultura, principalmente) , daquela primeira língua, o Indo-europeu,
falada pelo homem ainda na pré-história.
A Língua Latina surgiu na região do Lácio (da Itália
ao sul do Rio Tibre) , por volta do século VII a.C., dois milênios
depois do Indo-europeu. A capital do Lácio era Roma, a mesma do futuro
Império Romano. Olavo Bilac, nosso Príncipe dos Poetas, tem
um excelente poema em homenagem à nossa Língua Portuguesa, evocando
suas origens nessa região:
SONETO DE OLAVO BILAC
Lingua Portugueza
Ultima flor do Lacio, inculta e bella,
És, a um só tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lyra singela,
Que tens o trom e o silvo da procella,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exilio amargo,
O genio sem ventura e o amor sem brilho!
O Latim e o Império Romano
Apropriando-se da língua utilizada pelos povos itálicos (fundadores
de Roma) que ainda sofriam invasões bárbaras, os romanos tornaram
o Latim a língua oficial do Império. Só atente para um
pequeno detalhe: olhe o tamanho do Império!
DOMÍNIO DO LATIM
Esta era a área dominada pelo Império Romano em 116 d.C., bem
no seu auge. É claro que, como aconteceu ao Indo-europeu, o Latim,
não podendo permanecer o mesmo em tão diferentes lugares e tão
longínquas regiões, foi sofrendo alterações, devido,
sobretudo, a fatores locais (cultura, folclore, invasões) , até
se fragmentar.
Latim Vulgar, um uso “clandestino”
(VII a.C. – IX d.C)
Ainda no Império Romano, as pessoas eram obrigadas a falar Latim,
mesmo não sendo sua língua local. Os romanos conquistaram a
Península Ibérica em 218 a.C. A partir de então, o Latim
falado na Galícia e na Lusitânia (províncias ibéricas)
adquiriu traços peculiares próprios da Península. Essa
época é chamada pré-histórica porque não
há documentos escritos: lembrem-se, o Latim Vulgar era apenas falado,
mas oficialmente (nos documentos e registros escritos) só se podia
usar o Latim Canônico.
O povo queria usar a língua de uma maneira mais próxima de
suas tradições culturais, na pronúncia e na escolha das
palavras, na organização e na sintaxe da frase. Por isso, em
todas as situações domésticas, não se usava outra
variante senão a do Latim Vulgar, e Vulgar porque era do povo.
“Primeiras Letras” do Latim Vulgar
(IX d.C. – XII d.C.)
No século IX, começa a escritura dos primeiros documentos em
Latim “bárbaro”, ou seja, com traços de uma nova
língua que se anunciava entre o povo. Dessa forma, trata-se de registros
de pequena importância na hierarquia de poder (testamentos, contratos,
documentos jurídicos de pequena monta).
Note-se que esses documentos de cartórios, se não atendiam
aos interesses dos governantes, faziam parte da vida privada do povão,
que dava a mão-de-obra para as instituições de baixo
escalão.
ESCRITURA DE DOAÇÃO EM LATIM BÁRBARO
(874 D.C.)
Fofino, Gaton, Astrilli, Arguiru, Vestremiru, Guinilli et Aragunti placitum
facimus inter nos, unus ad alios, per scripturam firmitatis, notum die quod
erit IIIº nonas Apritis era DCCCCª XIIª, super ipsa eclesia
et super nostras hereditates, quantas habuerimus et ganare potuerimus usque
ad obitum nostrum, que non habeamus licentiam super illas nec uindere, nec
donare, nec testare in parte extranea, nisi unus ad allios aut ad ipsa eclesia
uocabulo Sancti Andree Apostoli. Et qui minima fecerit, et istum placitum
excesserit, pariet parte de que isto placito obseruauerit X boues de XIIIm
XIIIm modios, et iudicato. Nos pernominatos in hoc placito manus nostras ro
+++++++ uoramus.
O Latim já está tão Vulgar que já não
é mais latim: é o Galego-português (últimas décadas
do século XII ao XIV)
A partir do final do século XII (1150-1200) , na Península
Ibérica não se fala mais o Latim, nem mesmo em sua forma Vulgar.
As características do Latim que não se identificavam com a vida
e o pensamento da grande populaça se perderam. Portanto, já
completamente descaracterizado, o latim torna-se, aos poucos, língua
morta, e cada vez mais vigora o Galego-português, uma evolução
do Latim totalmente de acordo com o que o povo queria, pois, lembrem-se, o
Latim foi uma língua imposta pelos romanos as povos ibéricos.
No mundo nom me sei parelha,
Mentre me vai
Ca moiro por vós, e ai
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraia
Quando vos vi em saia?
Mau dia me levantei
Que vos enton non vi feia.
E, ma senhor, dês aquel’ dia, ai,
Me foi a mi mui mal.
E vós, filha de Dom Pai
Muniz, bem vos semelha
D’aver eu por vós g (u) arvaia
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
valia d’huma correia.
No mundo não sei de coisa igual
Se continuar do jeito que vai
Porque morro por vós, e ai
Minha senhora, de branco e vermelho
Quereis que vos envergonhe
Quando vos vir de pijama?
Maldito dia me levantei
Para então não mais te ver feia.
E, minha senhora, desde aquele dia, ai,
Me tem sido a mim muito ruim.
E vós, filha de Dom Paio
Muniz, vos parece correto
De eu ter por vós sentimento
Pois eu, minha senhora, em troca
Nunca de vós tive, nem tenho,
Valor sequer de uma correia.
A primeira poesia escrita em Galego-português, “Ca moiro por
vós”, de Paio Soares de Taveirós, conhecida como “Canção
da Ribeirinha”, concorre como primeiro texto escrito nessa moderna língua
galego-portuguesa, por ser do final do século XII (1189?)
CANÇÃO DA RIBEIRINHA
O Galego-português (das últimas décadas de XII
até XIV)
Nesse período, a língua de Portugal e da Galícia era
a mesma. Somente no século XIV a separação dos idiomas
português e galego se consuma. Na passagem do século XIII ao
XIV, o principal poeta foi D. Dinis, rei de Portugal. Ele escreveu muitos
versos trovadorescos que marcaram a história do Trovadorismo Português,
sob forma de cantiga d’amor (de voz masculina dirigida à amada)
ou d’amigo (de voz feminina dirigida a uma confidente). Confira esta
cantiga d’amor:
POEMA DE D. DINIS (1261-1325)
Preguntar-vos quero por Deus,
Senhor fremosa, que vos fez
mesurada e de bom grado e de bom prez,
que pecados foron os meus
que nunca tevestes por ben
De nunca mi fazerdes ben.
Pero sempre vos soub’amar,
des aquel dia que vos vi,
mays que os meus olhos em mi,
e assy o que quis Deus guisar,
que nunca tevestes por ben
De nunca mi fazerdes ben.
Des que vos vi, sempr’ o mayor
bem que vos podia querer
vos quigi, a todo meu poder,
e pero quis Nstro Senhor
que nunca tevestes por ben
De nunca mi fazerdes ben.
Mays, senhor, ainda com ben
Se cobraria bem por bem.
Quero vos perguntar, por Deus,
Senhora formosa, o que vos fez
talhada e de boa índole,
que pecados foram os meus
para nunca terdes por bem
De nunca me fazerdes bem.
Mas sempre vos soube amar,
desde aquele dia que vos vi,
mais que os meus olhos em mim,
e assim Deus quis fadar,
para nunca terdes por bem
De nunca me fazerdes bem.
Desde que vos vi, sempre o amior
bem que eu podia de vós querer
eu vos quis, com todas as minhas forças
mas porém quis Nosso Senhor
para nunca terdes por bem
De nunca me fazerdes bem.
Ainda mais, senhor, com bem
Se cobraria bem por bem.
A Língua Portuguesa no século XV
A partir do século XIV, como visto, o Galego-português cada
vez mais é substituído pelos dialetos regionais da Lusitânia
e da Galícia, até que o Português se dissocia do Galego.
Observe como este fragmento de uma crônica de Fernão Lopes (1380?-1460?)
marca bem esse período em que os traços do galego-português
se escasseiam para dar lugar à feição estilística
do Português.
CRÔNICA DE FERNÃO LOPES
Razoões desvairadas, que alguuns fallavam sobre o casamento delRei
Dom Fernamdo Quamdo foi sabudo pello reino, como elRei reçebera de
praça Dona Lionor por sua molher, e lhe beijarom a maão todos
por Rainha, foi o poboo de tal feito mui maravilhado, muito mais que da primeira;
por que ante desto nom enbargando que o alguuns sospeitassem, por o gramde
e honrroso geito que viiam a elRei teer com ella, nom eram porem çertos
se era sua molher ou nom; e muitos duvidamdo, cuidavom que se emfa daria elRei
della, e que depois casaria segundo perteemçia a seu real estado: e
huuns e outros todos fallavam desvairadas razõoes sobresto, maravilhamdose
muito delRei nom emtemder quamto desfazia em si, por se comtemtar de tal casamento.
Razões desvairadas, aquelas que alguns falavam sobre o casamento de
El-rei Dom Fernando. Quando foi sabido por todo o reino como El-rei recebera
depressa Dona Leonor por sua mulher, e todos lhe beijaram a mão como
Rainha, foi o povo de tal feito muito maravilhado, muito mais do que da primeira;
porque, antes disto, não embargando que alguns suspeitassem, pelo grande
e honroso jeito que viam El-rei ter com ela, não eram, porém,
certos se era sua mulher ou não; e muitos duvidando, cuidavam que se
enfadaria El-rei dela, e que depois casaria segundo pertencesse a seu real
estado; e uns e outros falavam desvairadas razões de sobre, maravilhando-se
muito de El-rei não entender quanto se desfazia de si, por se contentar
com tal casamento.
A Língua Portuguesa no século XVI
A Língua já está muito perto do uso que dela fazemos
hoje. O Português começa a dar seus primeiros passos. Ainda há
resquícios do galego-português, principalmente na ortografia,
que é sempre cambiante. Entretanto, o predomínio das características
do Português é evidente. Leia-se esse trecho de um roteiro de
Gil Vicente, que representa bem esse período de consolidação
entre o Galego-português e a Língua Portuguesa, a fim de se observar
a proximidade do Português do século XVI com o Português
de nossos dias:
TEATRO DE GIL VICENTE (1465-1537)
FIDALGO.
A estoutra barca me vou.
— Hou da barca! Para onde is?
Ah, barqueiros! Não me ouvis?
Respondê-me! Houlá! Hou!
Par Deus, aviado* estou!
Quant’a isto é já pior.
Que girinconcis, salvanor!
Cuidam que são eu grou**?
ANJO.
Que queres?
FIDALGO.
Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
se a barca do paraíso
é esta em que navegais.
ANJO.
Esta é; que me demandais?
FIDALGO.
Que me leixês*** embarcar;
sô fidalgo de solar
é bem que me recolhais.
ANJO.
Não se embarca tirania
neste batel divinal.
FIDALGO.
Não sei por que haveis por mal
que entr’a minha senhoria.
*aviado: em vias de, preparado
**cuidam que são eu grou: cuidam que sou
eu gralha?
*** leixês: deixeis
A Língua Portuguesa
no século XVII até a atualidade.
1600 é o século da glória de Camões, em que o
Português finalmente atinge sua fase moderna. A diferença maior
para a língua usada em nossos dias se restringe a pormenores como grafia,
vingando as semelhanças. Camões, após sua morte, será
o poeta do idioma nacional, autônomo e independente. Os Lusíadas
(1572) tornam-se o grande épico de Portugal e referência cultural
a partir do século XVII. Já na fase moderna da Língua
Portuguesa, a escolha vocabular e a sintaxe seguem padrões idênticos
aos atuais.
Leia-se o soneto camoniano musicado por Renato Russo:
Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que doe e não se sente,
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer,
É um andar solitário entre a gente,
É nunca contentar-se de contente,
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade,
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
As palavras em Português vieram todas do Latim?
A maior parte do vocabulário da Língua Portuguesa tem sua origem
no Latim: pater (pai); mater (mãe); filius (filho); manus (mão);
aqua (água); bonus (bom); fortis (forte); viridis (verde); dicere (dizer);
cadere (cair); amare (amar); avis (ave).
Não obstante, a estas palavras se somam outras provenientes do Latim
Vulgar (termos populares): bellus (belo); caballus (cavalo); cattus (gato);
casa (casa); grandis (grande)
Também há de se considerar a sobrevivência de várias
palavras oriundas da língua local, antes da invasão romana:
barro, manteiga, veiga, sapo, esquerdo.
Algumas palavras germânicas foram incorporadas a muitas línguas
românicas, inclusive o Português. Na maioria dos casos, foram
introduzidas por ocasião das invasões bárbaras, das quais
estas são provenientes: guerra; guardar; trégua; ganso; lua;
roubar; espiar; fato (roupa); ataviar; estaca; espeto; marta; agasalhar; gana;
branco; brotar.
A última observação recai na longa permanência
dos mouros na Península, fato que refletiu na Língua. Até
hoje, a presença dos árabes na Ibéria pode ser notada
pela região de Andaluzia, onde existe uma grande quantidade de ciganos
e outros povos bárbaros ou nômades. Dentre as palavras de uso
corrente na Língua Portuguesa, citem-se: arroz; azeite; azeitona; bolota;
açucena; javali; azulejo; açúcar; refém, arrabalde;
mesquinho; baldio; até
Dentre elas, pode-se destacar o grupo de palavras que se iniciam por AL,
que é o artigo da língua árabe: alface; alfarrábio;
alfinete; albarda; alicerce; almofada; alfaiate; almocreve; almoxarife; alfândega;
aldeia.
Quais são as diferenças então entre o Português
e o Latim?
Listemos algumas características que explicam a passagem do Latim
à Língua Portuguesa
a) Queda do acento de quantidade
Encerra-se a distinção entre sílabas longas e breves.
As vogais longas conservaram sua identidade: a, e, i, o, u em Português
se tornaram a, ê, i, ô, u, de tonicidade fechada, a que se pode
somar a vogal a breve em par com sua longa. A contraposição
das vogais breves e e o frente as respectivas longas foi marcada pelo acento
aberto do Português. Entretanto, as vogais breves i e u somaram-se às
vogais fechadas ê e ô do Português. Desse modo: a (a, a)
, é (e) , ê (e, i) , i (i) , ó (o) , ô (o, u) ,
u (u).
b) Queda das 5 declinações do Latim
O Latim possuía um sistema de declinações que agrupava
as palavras de acordo com suas terminações. Desse modo, as palavras
da primeira declinação como femina, -ae, comportava grande número
de palavras de gênero feminino. Já a segunda declinação
continha muitas palavras de gênero masculino, como é o caso de
uir, -i. Assim como a primeira declinação apresentava desinência
“-ae” e a segunda, desinência “-i”, a terceira
declinação era marcada pela desinência “-is”,
como dolor, -is, enquanto a quarta conjugação possuía
terminação “-us”, a exemplo de spiritus, -us. Finalmente,
existia ainda uma quinta declinação de poucas palavras, como
dies, -ei.
Com as transformações históricas em direção
ao Português, as declinações foram extintas dando lugar
à noção de gênero. Desse modo, a primeira e a quinta
declinações se alinharam por serem constituídas quase
totalmente de gênero feminino, em confronto com a segunda e a quarta
declinações, predominantemente do gênero masculino. A
terceira declinação, por abrigar os gêneros masculino,
feminino e neutro sem predominância de nenhum deles, foi distribuída
ora no grupo das palavras de gênero feminino, ora nas de gênero
masculino. O gênero neutro caiu, quase sempre em favor do masculino.
O mais importante é entender que nesse processo a organização
em declinações foi recusada em favor da organização
pela distinção dos gêneros masculino e feminino.
c) Extinção dos casos de marcação sintática
(nominativo, acusativo, ablativo, dativo, etc.)
A utilização dos casos na distinção das funções
sintáticas se reduziu ao caso mais genérico e habitual, ou seja,
de uso mais corrente. Na Ibéria, a preferência se deu pelo caso
acusativo, desde que se entenda a apócope da terminação
“m” característica. Outra forma de compreender o fenômeno
da extinção dos casos é perceber a fusão entre
o nominativo e um segundo caso, formado a partir da fusão entre acusativo
e ablativo. Exemplo: (erectus, nom. > erecto, abl. > ereto, port.);
(vita, nom > vitas, ac. > vidas, port.). São extintos, assim,
os morfemas de marcação sintática.
d) A dissolução do gênero neutro em masculino
ou feminino
Das palavras de gênero neutro, em geral, foram incorporadas ao gênero
masculino as que eram usadas freqüentemente no singular, como no caso
de (templum, neutro > templo, masc.); (patrimonium > patrimônio).
Já as habitualmente empregadas no plural foram somadas ao gênero
feminino, como é o caso de (olivum > oliva); (diarium > diária).
Quanto aos gêneros, portanto, a Língua Portuguesa opera sistematicamente,
salvo raras exceções (ex. lápis, simples) , com uma forma
única para o singular (masculino ou feminino) contraposta à
outra forma para o plural, além de algumas flexões pela desinência
“-a”.
d) Redução das 4 conjugações verbais
do Latim a partir da convergência entre 2ª e 3ª
No Latim, havia quatro conjugações. Porém, a 2ª
e a 3ª não conseguiram permanecer diferenciadas, pois a tonicidade
entre longo e breve era a única distinção (debere, 2ª
? vendere, 3ª). Com a fusão, fixaram-se três conjugações:
(amare > amar); (debere/vendere) > (dever/vender); (punire > punir).
e) Alteração dos quadros modo-temporais dos verbos
São tempos que permaneceram do Latim clássico ao Português
presente e imperfeito do indicativo: (amo > amo); (debeo > devo);
(vendo > vendo); (punio > puno).
pretérito perfeito do indicativo: (amavi > amai > amei);
(debui > debei > devi); (vendedi > vendei > vendi); (punivi
> punii > puni).
pretérito mais-que-perfeito: (amaveram > amaram > amara).
presente do subjuntivo: (amem > ame); (debeam > devam > deva)
imperativo presente: (ama > ama); (debe > deve); (venda > vende);
(puni > pune).
São tempos substituídos por nova construção
perifrástica:
futuro imperfeito (amabo, debebo, vendam, puniam) foi substituído
por uma perífrase de infinitivo + habere no presente (amare habeo)
, (debere habeo) , (vendere habeo) , (punire habeo). Através de elisões
(metaplasmo por queda) , a perífrase transformou-se no futuro do presente
(amarei, deverei, venderei, punirei).
futuro perfeito (perfectum) foi substituído por uma perífrase
de infinitivo + habere no imperfeito do indicativo, que expressava o futuro
do pretérito: (amare habebam > amaria).
São tempos que se fundiram com outro semelhante:
imperfeito do subjuntivo caiu em favor do mais-que-perfeito do subjuntivo
(no Português, o “imperfeito do subjuntivo” derivou do mais-que-perfeito
do subjuntivo).
futuro perfeito do indicativo confundiu-se com o perfeito do subjuntivo,
resultando no futuro do subjuntivo: (amavero > amaro > amar); (debuero
> debero > dever); (vendidero > vendero > vender); (punivero >
puniro > punir)
particípio presente tornou-se adjetivo (amantis > amante) enquanto
o gerúndio o substituiu: amando.
imperfeito do subjuntivo foi substituído pelo mais-que-perfeito do
subjuntivo, dando origem ao imperfeito do subjuntivo e ao infinitivo flexionado
simultaneamente.
São tempos que caíram
infinitivo perfeito (perfectum)
imperativo futuro (infectum)
particípio do futuro ativo (algumas formas permaneceram, mas em
caráter nominal: “nascedouro”, “vindouro”,
“bebedouro”).
gerundivo (algumas formas permaneceram, mas em caráter nominal:
merenda, oferenda, graduando)
supino.
A voz passiva sintética possuía formas verbais próprias
terminadas em “-r”: amor, amabar, amabor (presente, imperfeito
e futuro do indicativo); amer, amarer (presente e imperfeito do subjuntivo).
No imperativo (amare, amamini) , no infinitivo (amari) , no gerúndio
(amandus, -a, -um) e no particípio passado (amatus, -a, -um) , as formas
não se restringem à terminação em “-r”.
Todas estas formas caíram em desuso — exceto o particípio
passado (amatus > amado) — e foram substituídas por perífrases
(amor > amatus sum); (amabar > amatus eram); (amabor > amatus ero);
(amer > amatus sim); (amatus essem > amarer). Mais tarde, ocorreram
algumas modificações (amatus sum > amatus fui); (amatus eram
> amatus fueram).
f) Palatalização dos encontros consonantais “pl”,
“cl”, “fl” para “ch” [š]
Exemplos: (pluva > chuva); (clave > chave); (flamma > chama).
Palavras mais eruditas cambiaram para “pr”, “cr”,
“fr”: (placere > prazer) , (clavu > cravo) , flaccu >
fraco); ao que se soma “bl” para “br”: (blandu >
brando).
g) Síncopes intervocálicas
L Exemplos: (salire > sair); (dolore > door > dor); (voluntade >
vountade > vontade)
N Exemplos: (manu > mão); (luna > lua); (lana > lãa
> lã); (bonu > bõo).
h) Dêiticos
Do quadro de pronomes que já vigorava no Galego-português, deve-se
ressaltar a oposição entre adjetivo (este/aqueste, esse/aquel)
e advérbio (aqui/ali, acá/alá, acó, aló).
Somente as formas “aqueste” e acó” caíram
em desuso completamente, enquanto “aló” ainda sobrevive
como saudação ou chamamento.
i) Artigo
O artigo da Língua Portuguesa é uma evolução
do pronome demonstrativo “ille”, que, após aférese,
sofreu alteração fonética de “le” (conservado
no Francês) para “lo” (conservado no Castelhano ao lado
de “el”). Por último, a partícula ainda perdeu a
consoante líquida, logrando a forma atual “o”.
BIBLIOGRAFIA
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A nossa magna lingua portugueza
e nobres sons é um thesouro.
seccou o poente, murcha a luz represa.
Já o horizonte não é oiro: é ouro.
Negrou? Mas das altas syllabas os mastros
Contra o ceu vistos nossa voz affoite.
O claustro negro ceu alva azul de astros,
Já não é noute: é noite."
Fernando Pessoa, 1930
"O meu país não é a minha língua,
mas levá-la-ei para aquele que
encontrar".
Maria Gabriela Llansol , 1985
A língua falada por um país corresponde ao
cerne de sua identidade. Desde as primeiras conquistas, como os povos egípcios,
gregos e romanos, era comum que as nações colonizadoras tratassem
logo de impor seu idioma como forma de dominação. O mesmo valia
para a religião, pois já se sabia que, quando tiramos de um
povo seu idioma e sua religião, tiramos também um grande pedaço
de sua alma.
COMO SURGIU A LÍNGUA PORTUGUESA?
A Língua Portuguesa é um idioma neolatino,
ou seja, é derivada do latim. Sua história começa antes
da Era Cristã, quando os romanos dominaram a Península Ibérica
(que hoje são Portugal e Espanha) e impuseram seus padrões de
vida e sua língua.
As várias etnias que lá existiam acabaram por se misturar ao
latim falado pelos soldados romanos: o linguajar do povo, que não possuía
forma escrita, um latim vulgar - ao contrário do latim erudito, mais
rígido. Por não estar preso à forma escrita, o latim
vulgar era mais variado e por isto não foi difícil surgirem
os novos dialetos, frutos das diferentes combinações em cada
região.
Além da dominação pelo Império Romano, a Península
Ibérica também sofreu invasões de povos germânicos
(os vândalos, suevos e visigodos), no século V da Era Cristã.
Daí herdamos alguns vocábulos, a maioria ligada à área
militar, tais como guerra, marechal, general. As invasões dos árabes
no século VIII também contribuíram para a incorporação
de novas palavras. Você sabia que geralmente as palavras começadas
em 'al' têm origem árabe? São exemplos: alface, alfinete,
álgebra, alfândega. Das que não começam em 'al':
garrafa, quintal, xarope.
As influências germânica e árabe não foram tão
intensas quanto a dos romanos e por isto as raízes latinas foram as
que continuaram sustentando a cultura da península. A região
que hoje ocupa Portugal se destacou do restante da península no ano
de 1143, quando foi declarada a independência da Nação
Portuguesa, com o idioma galego-português. No sul, predominava o português,
e, no norte, o galego. Esta parte foi anexada pelo povo castelhano alguns
anos depois e, em 1290, o idioma português foi declarado oficial na
Nação Portuguesa.
VARIAÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA
A língua oficial do nosso país é a Língua Portuguesa,
imposta pelos colonizadores portugueses quando chegaram à costa brasileira.
Aqui já se falavam vários dialetos indígenas, porém
a maioria foi extinta para dar lugar ao idioma português. Se você
leu com atenção sobre o Dia do Índio, vai lembrar que,
dos 1.300 dialetos falados pelas diversas tribos indígenas em 1500,
só persistem hoje cerca de 180.
Mesmo tendo adotado o idioma de seu colonizador, o Brasil possui modos de
escrever e de falar que foram surgindo e caracterizando nosso povo com o passar
do tempo. A Língua Portuguesa aqui é bem diferente da que encontramos
em Portugal, além das variações que encontramos de região
para região dentro do nosso país. Isso tudo porque um idioma
não é algo estático, parado no tempo. Se fosse, ainda
estaríamos falando como em Portugal no século XVI, como tempos
"d'antes"... Reparou como o poema de Fernando Pessoa mostra esta
transformação?
Nossa língua muda de acordo com a época e com os costumes.
Mesmo em curtos espaços de tempo - pense numa propaganda, por exemplo,
e perceba como certos slogans acrescentaram novas palavras e expressões.
E os neologismos? Até o ministro Rogério Magri, da época
do governo Collor, ninguém usava o termo imexível (por saberem
que tal palavra não existia ou porque não gostavam de inovar?).
Muita coisa mudou e, acredite, cada um de nós contribuiu para que assim
fosse!
Viu como temos várias línguas em torno da Língua Portuguesa?
Tem o português de Portugal, o português do Brasil e suas inúmeras
variações regionais. E ainda o português das outras colônias
portuguesas (mas isto é outra história...). Não é
tão complicado, porque, no final das contas, todas estão sujeitas
às regras e formalidades do idioma, representadas pela Gramática
da Língua Portuguesa.
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
História da Língua Portuguesa
O SURGIMENTO
O surgimento da Língua Portuguesa está profunda e inseparavelmente
ligado ao processo de constituição da Nação Portuguesa.
Na região central da atual Itália, o Lácio, vivia um
povo que falava latim. Nessa região, posteriormente foi fundada a cidade
de Roma. Esse povo foi crescendo e anexando novas terras a seu domínio.
Os romanos chegaram a possuir um grande império, o Império Romano.
A cada conquista, impunham aos vencidos seus hábitos, suas instituições,
os padrões de vida e a língua.
Existiam duas modalidades do latim: o latim vulgar (sermo vulgaris, rusticus,
plebeius) e o latim clássico ( sermo litterarius, eruditus, urbanus).
O latim vulgar era somente falado. Era a língua do cotidiano usada
pelo povo analfabeto da região central da atual Itália e das
províncias: soldados, marinheiros, artífices, agricultores,
barbeiros, escravos, etc. Era a língua coloquial, viva, sujeita a alterações
freqüentes. Apresentava diversas variações. O latim clássico
era a língua falada e escrita, apurada, artificial, rígida,
era o instrumento literário usado pelos grandes poetas, prosadores,
filósofos, retóricos... A modalidade do latim imposta aos povos
vencidos era a vulgar. Os povos vencidos eram diversos e falavam línguas
diferenciadas, por isso em cada região o latim vulgar sofreu alterações
distintas o que resultou no surgimento dos diferentes romanços e posteriormente
nas diferentes línguas neolatinas.
No século III a.C., os romanos invadiram a região da península
ibérica, iniciou-se assim o longo processo de romanização
da península. A dominação não era apenas territorial,
mas também cultural. No decorrer dos séculos, os romanos abriram
estradas ligando a colônia à metrópole, fundaram escolas,
organizaram o comércio, levaram o cristianismo aos nativos. . . A ligação
com a metrópole sustentava a unidade da língua evitando a expansão
das tendências dialetais. Ao latim foram anexadas palavras e expressões
das línguas dos nativos.
No século V da era cristã, a península sofreu invasão
de povos bárbaros germânicos ( vândalos, suevos e visigodos).
Como possuíam cultura pouco desenvolvida, os novos conquistadores aceitaram
a cultura e língua peninsular. Influenciaram a língua local
acrescentando a ela novos vocábulos e favorecendo sua dialetação
já que cada povo bárbaro falava o latim de uma forma diferente.
Com a queda do Império Romano, as escolas foram fechadas e a nobreza
desbancada, não havia mais os elementos unificadores da língua.
O latim ficou livre para modificar-se.
As invasões não pararam por aí, no século VIII
a península foi tomada pelos árabes. O domínio mouro
foi mais intenso no sul da península. Formou-se então a cultura
moçárabe, que serviu por longo tempo de intermediária
entre o mundo cristão e o mundo muçulmano. Apesar de possuírem
uma cultura muito desenvolvida, esta era muito diferente da cultura local
o que gerou resistência por parte do povo. Sua religião, língua
e hábitos eram completamente diferentes. O árabe foi falado
ao mesmo tempo que o latim (romanço). As influências lingüísticas
árabes se limitam ao léxico no qual os empréstimos são
geralmente reconhecíveis pela sílaba inicial al- correspondente
ao artigo árabe: alface, álcool, Alcorão, álgebra,
alfândega... Outros: bairro, berinjela, café, califa, garrafa,
quintal, xarope...
Embora bárbaros e árabes tenham permanecido muito tempo na
península, a influência que exerceram na língua foi pequena,
ficou restrita ao léxico, pois o processo de romanização
foi muito intenso.
Os cristãos, principalmente do norte, nunca aceitaram o domínio
muçulmano. Organizaram um movimento de expulsão dos árabes
(a Reconquista). A guerra travada foi chamada de "santa" ou "cruzada".
Isso ocorreu por volta do século XI. No século XV os árabes
estavam completamente expulsos da península.
Durante a Guerra Santa, vários nobres lutaram para ajudar D. Afonso
VI, rei de Leão e Castela. Um deles, D. Henrique, conde de Borgonha,
destacou-se pelos serviços prestados à coroa e por recompensa
recebeu a mão de D. Tareja, filha do rei. Como dote recebeu o Condado
Portucalense. Continuou lutando contra os árabes e anexando novos territórios
ao seu condado que foii tomando o contorno do que hoje é Portugal.
D. Afonso Henriques, filho do casal, funda a Nação Portuguesa
que fica independente em 1143. A língua falada nessa parte ocidental
da Península era o galego-português que com o tempo foi diferenciando-se:
no sul, português, e no norte, galego, que foi sofrendo mais influência
do castelhano pelo qual foi anexado. Em 1290, o rei D. Diniz funda a Escola
de Direitos Gerais e obriga em decreto o uso oficial da Língua Portuguesa.
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/maio/dia-da-lingua-nacional-4.php#ixzz1vUcsx77m
A realidade, que se busca atingir, no contexto brasileiro, é de um
tipo que, desde a antigüidade, se intuiu. Efetivamente é lícito
ressaltar que, apesar de Platão (República) e Aristóteles
(Poética) se terem distinguido, respecitvamente, na análise
do significado da poesia, por atribuir ao poeta a função de
inflamar as paixões humanas ou, ao contrário, de satisfazê-las
e regulá-las, tem ambos pontos comuns: poesia como mimesis, emoção
em quem se debruça sobre a realidade, justificação da
poesia pelo serviço prestado ao Estado, exercício pelo poeta
de grande poder sobre os outros homens.
Dando ao termo poesia o sentido mais largo, para abranger toda a produção
literária, vemo-nos diante do fato de que é naquilo que separa
fundamentalmente os dois filósofos que se situa o problema das relações
entre o evoluir da literatura de uma dada sociedade e o desenvolvimento de
sua expressão lingüística. Sendo indivíduo e sociedade
entidades que interagem continuamente a partir de moviemntos do primeiro (paixões,
no contexto aristotélico-platoniano) é dentro de uma abordagem
psicossocial da realidade expressional que o lingüista deve buscar o
verdadeiro confronto entre os dois desenvolvimentos, o literário e
o lingüístico. Isso porque a evolução da realidade
lingüística é também evolução do sentimento
da mesma.
O obrar linguístico é da essência da natureza humana
e não exterior a ela e a literatura, como forma de expressão
humana, é um dos indicadores, à disposição do
analista, do sentido real da evolução lingüística
em seu conjunto. A função atribuída por Aristóteles
ao poeta, de satisfazer e regular os movimentos humanos, está presente
em todo falante, ao imitar este a realidade dentro de um contexto de liberdade
em relação a regras expressionais prévias, pois esta
sua ação acaba sendo, basicamente uma interpretação.
Assim como a arte do poeta - escritor, no sentido mais amplo - é uma
virtude intelectual essencialmente prática, cujo papel primordial é
a imitação do real, da natureza física ou do mundo moral,
sem ser pura cópia mas síntese dos caracteres das coisas, o
usuário da língua, em um contexto de livre interação
com a realidade de seu interesse, procede igualmente por imitação,
sendo menos eficiente na manutenção das estruturas gramaticais
de sua realidade, preexistente que são com respeito a essa livre interação.
A função imitativa, presente no obrar lingüístico
de tal falante, é também progressiva, levando à sedimentação,
caso influa ele no meio social e seja prolongada sua experiência, de
um novo conjunto de regras. a imitação começa com propósitos
de exatidão, passa a ser, na segunda fase, seletiva e, persistindo
as condições da livre interação, transforma-se
em produção. Este fato é abonado por Aires de Casal que,
citando Muratori, afirma que os índios do Uruguai sabiam ler com desembaraço
os livros espanhóis, mas não os entendiam.
A situação, assim indicada por Aires de Casal, era comum a
todos os territórios em que os jesuítas eram protagonistas da
cena de atração dos indígenas e inserção
dos mesmos em sua esfera de interesses, que não eram os da coroa portuguesa.
Esse quadro fundamental explica o processo imitativo do desempenho lingüístico
indígena e a conseqüente formação de uma realidade
expressional progressivamente diversa, sem nenhum retorno ao estado de 1500
a não ser, e na língua escrita, após a destruição
do esquema cultural dos padres da Companhia de Jesus.
O que diremos, a seguir, visa a demonstrar que, no Brasil, até o advento
da era pombalina, viveu-se uma experiência lingüística de
todo dissociada da que contemporaneamente se realizava em Portugal, interagindo,
em nosso meio, os falantes de todas as procedências sob a égide
da imitação progressiva daquilo que progressivamente resultava
do bilingüísmo, realizado com o português vivo europeu e
o tupinambá. Até cerca de 1750 não era dessas línguas,
nesse processo, mais prestigiosa que a outra. A decisão política
de Pombal, de alçar a língua portuguesa ao status de língua
única, fez com que aflorasse, dentro da sociedade brasileira, uma realidade
lingüística que não correspondia, pelos duzentos e cinqüenta
anos decorridos, à denominação que recebia.
A história posterior deste instrumento lingüístico, assim
oficializado, é a história da contradição entre
política da língua, tardiamente imposta pelo lusismo político
dominante, e realidade, com o natural apoderamento dos meios de disseminação
da língua escrita para o fim de deter a continuada diferenciação
da língua falada. Para realizar nosso intento, acompanharemos o conceito
de língua, no contexto da expansão política das nações
européias, desde o tempo das Cruzadas até o fim da era pombalina,
passando pelas vicissitudes políticas do Estado português em
suas relações com a Companhia de Jesus.
Após a era pombalina, seguiremos o espírito romântico
a contrastar com o tenaz esforço, quase sempre bem sucedido, dos lusóficos
no sentido de preservação de uma unidade expressional de caráter
escrito, sob a ilusão de poder este anular o livre, espontâneo
e historicamente coerente desempenho do usuário brasileiro no plano
da língua viva. No desenvolvimento do trabalho, a preocupação
maior será com as fontes, dando-se ênfase, na bibliografia da
questão da língua, aos trabalhos que representem principalmente
renovação doutrinária.
Evitar-se-á, tanto quanto possível, a citação
de contemporâneos para não se produzir polêmica. Os poucos
que receberem referência o serão por corresponderem a algum aspecto
particularmente relevante do estado atual do problema. O trabalho enquadra-se
no setor da lingüística referente à classificação
das línguas e corresponde ao aspecto da justificação
do ato político de se dar nome a um idioma com base no levantamento
rigoroso dos fatores históricos e sócio-culturais presentes
em sua formação.
Fonte: www.brasilcultura.com.br
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/maio/dia-da-lingua-nacional-4.php#ixzz1vUd0gf6y
Facts - 1987, p. 216. Pharos Books,
New York, EUA.
Fonte: www.linguaportuguesa.ufrn.br
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