segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Encontrada em praça de Camaquã Cruz Jesuíta de quase 300 anos

Foto: Alex Soares
Um objeto sagrado, forjado há cerca de 300 anos e dado como perdido, repousava anônimo numa pequena Praça de Camaquã (Praça Santa Cruz). Mas o conhecimento e a curiosidade dum doutor em Teologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC), nascido em Tapes e criado em Camaquã, desenterrou a peça, símbolo de um dos períodos mais marcantes da formação do Rio Grande do Sul: a colonização pelos padres jesuíticos espanhóis da atual região dos Sete Povos das Missões, habitada à época pelos índios guaranis. Isso foi entre os séculos 17 e 18.  
 
Foto: Alex Soares
A forma como a Cruz Jesuítica, que ornamentou o topo do campanário do templo da redução de São Miguel das Missões, veio parar em Camaquã ainda é desconhecida e talvez continue para sempre sem uma explicação definitiva. Ao contrário da autenticidade da Cruz, feita em ferro fundido. “É ela”, afirma Édison Hüttner, que além de doutor e professor de Teologia, coordena os estudos sobre Arte Sacra Jesuítico-Guarany da mesma PUC. Foi Hüttner, em uma visita à cidade onde mora a família, que em 2010 teve a atenção chamada pela peça, escondida dentro da gruta cravejada de pedras onde são feitas preces e acendidas velas na Praça Santa Cruz. Ele estava com o irmão Eder, morador de Camaquã e membro do grupo de pesquisas de Arte Jesuítica do Estado.  
 
Foto: Alex Soares
Praça Santa Cruz. Foto: Juares da Luz
A apresentação oficial da descoberta foi feita no sábado (17/08), no Cine Teatro Coliseu, com a presença dos irmãos Hüttner, da coordenadora do Centro de Microscopia da PUC, Berenice Dedavi, da secretária municipal da Cultura, Marla Crespo e do prefeito de Camaquã, João Carlos Machado. A solenidade, aberta e encerrada ao toque e interpretação de canções missioneiras por Luis Otávio Silva, o Faustinho, foi marcada pela empolgação do achado, mas sobretudo pelo respeito à presença no local do símbolo religioso.

“Eu não tenho dúvidas de que Deus tem sido sempre generoso com Camaquã, com nosso povo; assim como não tenho dúvida de que essa Cruz Santa veio parar aqui, há tanto tempo, para abençoar a nossa terra, para nos dar energia”, comentou em tom comedido o prefeito de Camaquã, o qual decidiu, no início deste mês, que a cruz seria registrada em cartório como pertencente ao acervo patrimonial do município.  
 
Praça Santa Cruz. Foto: Juares da Luz
No seu primeiro contato com a cruz, Hüttner se fixou numa inscrição na sua haste horizontal: em letras cinzas, se lia HSPN. De volta a Porto Alegre pesquisou a sigla e concluiu que as letras eram usadas nos meados do milênio passado para abreviar Espanha (o H é de Hispania em Latim). A informação o fez ter a plena sensação de ter encontrado um tesouro. Mas isso não bastava, era preciso a comprovação. Nas pesquisas de biblioteca e de campo (viagens foram feitas às Missões), até os arquivos secretos do Vaticano foram consultados. Uma litografia (desenho transformado em gravura em óleo) de 1846, assinada pelo francês Alfred Demersay e que mostra a cruz no alto do templo em São Miguel, provavelmente atingida por um raio, foi outro grande passo para confirmação. Em maio deste ano, após apresentar a descoberta à secretária municipal da Cultura e Turismo, Marla Crespo, Hüttner se reuniu com o prefeito, de quem conseguiu a autorização para desenterrar a cruz. Com bom humor, ele lembra as palavras ditas por João Carlos à secretária da Cultura e Turismo: "Façam o que o que tiver que ser feito, o que o professor desejar". Submetida depois a uma precisa medição, se concluiu que as dimensões do objeto de ferro de 2,5m x 1m batiam exatamente com as da litografia.  
 
Local onde estava a cruz. Fotos: Juares da Luz
Além da comparação dimensional, foi retirado da cruz material para análise. Examinado por um microscópio de varredura do Centro de Microscopia e Microanálise da PUC, se teve a certeza que o material é o mesmo encontrado nas peças fundidas nos fornos da Redução de São João, onde um padre alemão utilizava a técnica da forja trazida da Europa. “São os mesmos elementos”, sentencia a professora Berenice Dedavi, que coordenou o serviço.

Ciclo da erva mate

Sobre como a peça veio parar na praça do Bairro Centenário, o professor que estudou e transformou em livro a vida do padre Hildebrando de Freitas Pedroso, primeiro pároco de Camaquã entre 1856 e 1861, tem uma forte confiança que isso tenha a ver com o ciclo da erva mate dos séculos 18 e 19. A região de Camaquã era forte produtora da erva, que se constituía na principal fonte de tributos de Camaquã e da região à época. “Talvez numas dessas viagens algum transportador daqui tenha a achado em meios às ruínas ou mesmo comprado e tenha resolvido trazer”, sugere Hüttner. Originalmente, no entanto, a cruz foi instalada num local próximo de onde hoje está – provavelmente onde hoje está a caixa d’água da Corsan ou no terreno onde se localiza um tradicional açougue do bairro “É fato que quem a colocou ali sabia do seu valor religioso”, diz o pesquisar, que já tinha achado na década passada dois anjos feitos de arenito em Passo Fundo. As peças eram também da Igreja de São Miguel. A Cruz de Camaquã deve ter sido colocada na gruta onde está em 1959, quando foi fundada a Praça Santa Cruz.

Peregrinação

Em sua fala, na solenidade de sábado, Marla Crespo falou que a descoberta se constitui num valioso presente de aniversário de Camaquã, que em 2014 completa 150 anos de fundação. Ela comentou que os próximos passos agora serão o de levar o assunto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural Nacional (Iphan) para que seja atestada oficialmente a sua autenticidade. Paralelamente, o governo municipal começa a estudar um local para que a cruz, agora guardada em local seguro do município, seja instalada e visitada. Pela importância do símbolo, o prefeito acredita que haverá grande procura de camaquenses e de turistas à cruz assim que ela esteja num local público e definido.

O que é?


Cruz Missioneira – umas das duas de ferro feitas (ou trazidas) pelos padres jesuítas no Rio Grande do Sul entre os séculos 17 e 18.

As Missões Jesuíticas

Entre 1550 e 1750, cerca de 1milhão de indígenas viveram sob a orientação dos Padres Jesuítas. Além da convivência fraterna, trabalho comunitário e divisão de bens, eles viveram a experiência da evangelização, o aprendizado de artes e ofício, a prática da agricultura e pecuária e outros.

A Redução de São Miguel das Missões (ou do Arcanjo)

Em 1697 a Redução (ou povoado) de São Miguel foi dividida, indo 2.832 pessoas fundar a redução de São João Batista. Em 1707 possuía 3.110 habitantes. A igreja em que estava a cruz foi obra do padre João Batista Primoli, que de 1735 a 1744 a levantou empregando somente operários indígenas.
(Fonte: Ass Com Gov Mun/Alex Soares)

6 comentários:

  1. PNA QUE VÃO TIRAR ELA DE ONDE A VONTADE POPULAR A COLOCOU.

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  2. Eu também acho uma pena tirarem a Cruz, mas já que "historiadores" garantem o seu local de origem, que coloquem outra de um material compativel para substitui-lá e não ficar só a marca. Eu não lembro se na entrada do CTG tem uma ferradura como símbolo...tomara que se tiver, não passe nenhum historiador por lá...já pensou se eles descobrem que foi do cavalo de São Jorge numa vinda deles para cá?! Aí já vão levar...ah, aí vai virar bagunça! (Brincadeira, só para descontrair diante de tantas "pérolas" que só acontecem em Camaquã mesmo!!!!).Alexandra Freitas!

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  3. Eu também acho uma pena tirarem a Cruz, mas já que "historiadores" garantem o seu local de origem, que coloquem outra de um material compativel para substitui-lá e não ficar só a marca. Eu não lembro se na entrada do CTG tem uma ferradura como símbolo...tomara que se tiver, não passe nenhum historiador por lá...já pensou se eles descobrem que foi do cavalo de São Jorge numa vinda deles para cá?! Aí já vão levar...ah, aí vai virar bagunça! (Brincadeira, só para descontrair diante de tantas "pérolas" que só acontecem em Camaquã mesmo!!!!).Alexandra Freitas!

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  4. Uma Cruz que ninguem sabia onde estava...
    POr pouco não foi roubada, pois não havia proteção nenhuma.
    Graças a Deus alguém se deu conta.
    Agora a Cruz terá não uma capelinha...mas um santuário. Se não voltar para São MIguel das Missões.
    ROberto

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  5. pra encerrar, da história ela ter parado ali, ou a história ja acabou ou parou e ninguém me contou nada!

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  6. se a história não parou e ninguém me avisou nada, então faz parte da história ela ter parado lá na pracinha...

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